Não hiberno porque não quero fazer figura de urso.

terça-feira, dezembro 19, 2006

As mãos limpas

O perplexo presidente da Liga de Clubes, que já ficara "preocupado, apreensivo e incomodado" quando soube coisas sobre o mundo do futebol que, pelos vistos, só ele não sabia, revelou agora que "acha mal" que na lista candidata aos órgãos da Federação, em que aparece como vice-presidente da Direcção, haja três-arguidos- -três de dezenas de crimes de corrupção e falsificação de documentos no caso "Apito Dourado".
"Acha mal" ("que ninguém tenha dúvidas disso"), mas "não pode fazer nada". À preocupação, apreensão e incómodo acresce (suspiro) a impotência, versão (um pouco menos elaborada, convenhamos) do melancólico "se soubésseis o que custa mandar, preferiríeis obedecer toda a vida" de Salazar. Em Portugal, particularmente na obscura parte de Portugal que é o futebol, o poder sempre teve o misterioso condão de gerar impotência. O pobre homem que carrega o fardo da Liga também não pôde "fazer nada" quanto ao facto de outro arguido do "Apito Dourado" avultar a seu lado nos órgãos dirigentes da prestimosa instituição. Daí já então lavou as mãos. Ninguém no sujo mundo do futebol português lava tantas vezes as mãos como o presidente da Liga. Reconforta saber que há nesse mundo uma pessoa que se esforça por manter as mãos sempre impecavelmente limpas.

In JN