Não hiberno porque não quero fazer figura de urso.

terça-feira, maio 08, 2007

Nevelsk

Domingo, o tempo não convida a passeios, mas mesmo assim e à boleia de um colega, começamos a viagem em busca de Nevelsk.
Após 100 kilómetros de estrada em boas condições e atravessando as belas montanhas de Sakhalin, nesta altura com os picos e as vertentes viradas a Norte ainda cobertas de neve, chegamos a Kholmsk. Cidade onde se encontra aquele que é o maior porto marítimo de Sakhalin. Cheiro forte a maresia. Fantástico! Faz-me ter saudades da Figueira.
Pequena volta pelo cais e voltar de novo à estrada. 50 quilometros por um caminho de terra batida em más condições devido ao degelo e à chuva dos ultimos dias. O nosso veiculo, um Toyota Crown com dez anos e duzentos mil quilómetros sem nunca ter visto um amortecedor novo, parece desintegrar-se a todo o momento. Duas horas depois, vemos a entrada da cidade de Nevelsk, com o controlo de policia habitual.

Nevelsk não passa de uma cidade criada por prisioneiros russos, enviados para a ilha de Sakhalin durante o periodo estalinista. Aqui se estabeleceram e dedicaram aos recursos maritimos. Esta cidade fica situada na costa Oeste da ilha e é banhada pelo Golfo Tatar. Cidade russa que evoluiu regida pelo aparelho do partido comunista. Praça central com homenagem ao pai da pátria, Lenine, monumento à grande vitória patriótica da Guerra de 1941/45 e monumento em homenagem a Gagarin.
Prédios iguais aos outros milhões que encontramos em outras cidades russas e ruas já sem pinga de alcatrão.
Esta cidade é igual a centenas de outras na Russia, dando apenas a sensação de que aqui não vai haver evolução, já ninguém quer evoluir aqui. População: 18,639 (2002 Census)

É nesta cidade do Oblast de Sakhalin que todos os anos se forma uma colónia de leões marinhos durante a época de acasalamento. Um paredão artificial, criado a 500 metros da costa em meados do céculo passado para proteger o porto, serve de casa temporária a centenas destes animais.
Há um ano que tive conhecimento disto e desde então desejo vir aqui para ver estes animais.

O dia estava cinzento, havia muita humidade no ar e a minha pequena objectiva não faz milagres. Sempre imaginei poder tirar fotos como aquelas que vemos na National Geografic, mas entre o sonho e a realidade vai uma grande diferença.

Fiquei estaziado com a imagem e o som rouco e forte dos machos que nos faz estremecer a caixa toráxica. Como seria bom conseguir estar mais perto destes maravilhosos animais.
Habituei-me a admirar estes animais na televisão. Tenho conhecimentos básicos sobre os hábitos e costumes dos leões marinhos.

Estava há uma boa hora em contemplação, quando tive a sensação de ver uma barbatana.
Parei.
Что это? (“O que é isto?” na lingual de Camões).
Senhoras e senhores, momento National Geographic:
Um grupo de baleias assassinas ronda a colonia à espera que os leões marinhos voltem ao mar para se alimentar.
Foi a cereja no topo do bolo.
Aquele tipo de coisas a que sempre sonhei assistir.
Foi espectacular ver os leões marinhos parar em busca dos predadores e fugir, com os seus saltos ágeis.
As baleias… só de olhar para elas é maravilhoso.Não tenho palavras para descrever a emoção e a alegria de presenciar a vida selvagem no que de mais belo tem.