Não hiberno porque não quero fazer figura de urso.

sábado, abril 07, 2007

Eles amam-se

Informam-me que dois conhecidos gostam um do outro. Por enviesadas circunstâncias laborais, vejo-me obrigado a partilhar espaço e tempo com as duas entidades. Mais exactamente: uma sala, uma tarde. Um escasso número de metros para umas não tão escassas cinco horas. E o que vejo? Duas pessoas, dois adolescentes, duas crianças, dois animais. Partilham tudo: educação, insultos, porrada. Ele: alto, magro, bonito, perfeito e acabadinho de engomar. Junta a delicadeza de um trolha à sensibilidade de uma besta. Ela: a versão modernista do mercado do bolhão. Uma pequena rameira paga em bordoadas sexuais. «Falam» muito alto, muito depressa e muito mal, mas como uma voz que fica no ouvido. Para sempre, até à paranóia. Entro calado, fico mudo, saio surdo. Contudo, há que admirá-los. Há que apreciar a sua capacidade de se auto, inter e intra humilharem à frente de estranhos. Admito, a auto-flagelação pública, não só prova um catolicismo reprimido, como sugere um proeminente futuro sexual. Se é assim em público, como será em privado, debaixo dos lençóis, entre suores peganhentos e segregações intersticiais? No final e depois de observação atenta, aprovo a relação. Chamaram-se de tudo, enfardaram com meiguice e sem vergonha do olhar privado. Amam-se. Podem casar-se.

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