Não hiberno porque não quero fazer figura de urso.

terça-feira, abril 17, 2007

HOUSE MD

Greg House foi "construído" com mestria pelo argumentista. Cínico, viciado em analgésicos, cáustico, transgressor impenitente, clínico genial, misantropo, lá no fundo um bonzarrão. Tudo o resto é pano de fundo, contra o qual se recorta o perfil dele. Foi bem salientado que a série só em aparência se debruça sobre a prática médica. Um Serviço de elite e a Instituição em geral nunca poderiam tolerar o personagem, desde logo pelo individualismo, impensável em tempos de sistemático trabalho de equipa. Dir-me-ão que os cirurgiões, por exemplo, sempre gozaram da fama de prima donnas. É verdade, mas como "casta", os virtuosos que executam as tarefas mais delicadas dentro do "sistema", não fora dele. House vive escarranchado no muro. É tolerado pela instituição e idolatrado pelos companheiros pela sua capacidade de diagnosticar a doença que habita o corpo de doentes que trata bem ou mal de acordo com o seu lábil humor (tão corrosivo que permite a gulosa identificação da nossa vertente agressiva). A barba, a ausência de bata, as sapatilhas, a ostensiva dependência criam a ilusão de uma espécie de "sonho americano" - com talento tudo é possível, mesmo numa das mais severas profissões. Até quando um dos seus doentes, polícia de profissão, o aperta, House pode contar com a lealdade da equipa e a simpatia do espectador. Pasme-se!, o "anarquista" do Hospital acaba por levar de vencida quem doa milhões de dólares mas exige a sua cabeça por razões formalmente aceitáveis. O artigo e quem para ele contribui acertam no alvo - House é uma transposição genial de Sherlock Holmes para o mundo da medicina, ela é apenas o cenário onde Hugh Laurie se move, nunca poderia ser o seu habitat real. Mas..., who cares:)? Eu não, delicio-me com episódio atrás de episódio, certo de que o primeiro diagnóstico nunca é o correcto e da bondade essencial - embora mais ou menos clandestina... - do herói, duro por fora e geleia por dentro, à boa maneira de John Wayne (que teve bem menos sorte com os argumentistas...).

Julio Machado Vaz